Algumas citações do livro “A PUBLICIDADE É UM CADÁVER QUE NOS SORRI” Oliviero Toscani
A publicidade não vende produtos nem idéias, mas um modelo falsificado e hipnótico da felicidade. Essa ambiência ociosa e agradável não é mais do que o prazer de viver segundo as normas idealizadas dos consumidores ricos. È preciso seduzir o grande público com um modelo de existência cujo padrão exige uma renovação constante do guarda-roupas, dos móveis, televisão, carro, eletrodomésticos, brinquedos das crianças, todos os objetos do dia-a-dia. Mesmo que não sejam verdadeiramente úteis. A publicidade não para de repetir em suas musiquinhas e slogans: usem estes relógios de pulso das atrizes de cinema, utilizem este desodorante de aroma silvestre e vocês farão parte de elite social, conhecerão a “verdadeira”, descobrirão o “gosto do essencial” e permanecerão jovens, ricos e belos. Ela repete tais simplismos até a exaustão. (27)
A publicidade oferece aos nosso desejos um universo subliminar que insinua que a juventude, a saúde, a virilidade, bem como a feminilidade, dependem daquilo que compramos. Um mundo todo sorrisos em que dialogo amáveis e muito blábláblá subentendem estas mensagens dissimuladas” (28)
“A publicidade vende felicidade”, repetem todos os grandes pensadores da comunicação, os responsáveis pela estratégia da comunicação, os responsáveis pela estratégia da Young & Rubicam ou da McCann Erickson, os teóricos da Euro-RSGS, todos. Quer dizer então que a felicidade se vende? Ou se compra? A publicidade já está ficando rouca de tanto falar em felicidade, parece que nem tem outra palavra na boca, enquanto a crise bate a porta de tido mundo e as população começam a preocupar-se com o próprio futuro. (29)
A publicidade é uma arapuca. A força de louvar o prazer de consumidor como imbecis felizes, ela acaba nos tornando anoréxicos. (29)
A publicidade excita os seus desejos, seduz os ingênuos, cria-lhes necessidades, torna-os culpáveis. Ela nos atrai para os seus encantos, nos ‘acende’ através de técnicas experimentadas. Compra-nos os nossos desejos. Como se compram votos em política. (29)
A publicidade não vende felicidade, ela gera depressão e angústia. Cólera e frustração. (33)
[…] possuir esta ou aquela roupa louvada nas propagandas é pertencer ao mundo dos eleitos. Sem esse casaco de couro no estilo americano, sem esses tênis reguláveis, adeus, aparência, adeus, vida! São roídos por sentimento de exclusão e de mal-estar. O garoto se vê como um estranho no círculo dos estudantes que realmente contam, a aqueles que paqueram as garotas, aqueles que possuem os sinais exteriores da riqueza e da “aparência” (33-34)
A publicidade é uma máfia. (39)
A publicidade é um cadáver perfumado. Sempre se diz a respeito dos defuntos: ‘Ele está bem-conservado, parece até que sorri.’ O mesmo vale para a publicidade. Acha-se morta, mas continua sorrindo.” (40)
Toscani explica a forma de publicidade da Benetton:
A publicidade poderia torna-se a parte lúcida, fantasista ou provocante da imprensa. Poderia explorar todos os domínios da criatividade e do imaginário, do documentário e da reportagem, da ironia e da provocação. Poderia oferecer informação sobre todos os assuntos, servir grandes causas humanistas, revelar artistas, popularizar grandes descoberta, educar o público, ser útil, estar na vanguarda. Que estopim!” (47)
O repórter fotógrafo Patrick Robert explica a forma de publicidade da Benetton
Ela transforma um slogan publicitário numa iniciativa humanista. Ela se aplica em colorir a Benetton com uma atitude progressista. E desenvolve uma imagem de marca, filosófica, que vai muito além do mero consumo.” (48) […] A Benetton entrou num outro domínio da publicidade, ela superou a noção de produto para vender uma filosofia de marca. (58)
A ilusão da publicidade:
Seu argumento favorito é que a publicidade deve provocar o sonho, não o raciocínio. (56)
A publicidade é neutra, vazia, sem interesse. Papel pintado. Dá vontade de ficar passando os canais de televisão.” (59)
“As imagens publicitárias constituem hoje uma parte imensa de nossa cultura, nossos conhecimentos, nosso gosto, nosso estilo, e inclusive nossa moral. (95)
A maior campanha publicitária da história da humanidade foi Jesus Cristo. Ela lançou um slogan universal: ‘Amai-vos uns aos outros’ E um admirável logotipo: a cruz” (129)
Hoje a publicidade não tem mais essa audácia de ir além do produto que ela promove, sem procurar ganhos rápidos. (130)
Promete-nos o Paraíso a crédito. Oferece-nos todos os dias aparições de divindades. Sacraliza o universo quotidiano, que ela transfigura numa comunhão solene com os produtos miraculosos. […] Explora o sentimento de culpa de todos aqueles que não merecem entrar no reino dos Eleitos do consumo. A publicidade é o contrário do amor. Promete tudo e não dá nada. È o catecismo da religião do consumo. (136)
É uma religião materialista, uma monstruosidade. Confunde milagre e dinheiro, os frescos da Capela Sistina e o catálogo pornográfico, música sagrada e musiquinha internacional, a pietà e a garota. (136)
Já não somos humanos, mas homens-máquinas. Semi robôs. Escravos. Entramos no regme da ditadura da televisão, não-violentos, suave, publicitário, a mais perigosa. (169)
A publicidade forma opinião e comportamento. A publicidade dita regras:
”A publicidade invadiu tudo… Mestre-escola de nossos filhos, eles passam oitocentas horas diante do professor e mil diante da telinha, fascinados por nossos comerciais, ela também mestre da vida. Tal como existia mestres de pensamentos”.(Jacques Séguéla). Extraído de (169)
Toda a publicidade precisa ser reinventada. (187)
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